Acho que uma das maiores qualidades que se pode ter como pessoa é o interesse pelo novo. Desde que nascemos, tudo que nos rodeia é, sem exceções, estranho ao olhar e aquela curiosidade mesclada com inquietação está presente em todos nós. Para mim, o assunto que se tornou instigante ainda jovem foi a tecnologia.
Com apenas 14 anos, comecei a trabalhar como recepcionista em uma empresa de treinamentos sobre microinformática. Me joguei de cabeça desenvolvendo na prática a habilidade de operar um computador, e, simultaneamente, a arte de atendimento ao cliente, não tão simples quanto parece.
De fato, quando dizem que você apenas compreende algo por completo quando consegue ensiná-lo a outra pessoa, é verdade. Cheguei a ministrar vários treinamentos em informática e literalmente aprender ensinando. Mas a cada passo da trajetória, sempre me fazia a mesma pergunta: “Por que não?” Sem nenhuma desculpa que julgasse razoável, partia para a próxima.
O próprio desafio intrínseco a tecnologia me instiga até hoje. Justamente por esse motivo, quando prestei vestibular optei pelo curso de ciências da computação, aprofundando o conhecimento seja na área de desenvolvimento por meio das aulas universitárias, seja no ramo de software com o qual já vinha me familiarizando no trabalho. Mas a rotina se tornou insustentável e acabei ficando doente por quase um ano, sobrecarregada.
Naquela época, a Tecnologia da Informação era uma área um tanto inédita. Os cursos universitários estavam sendo moldados ao mesmo tempo em que surgiam as primeiras contratações e treinamentos internos. Assim, por se tratar de algo distante e incompreensível para alguns, o funcionário de TI era considerado mais uma despesa a ser paga do que um bem que gera lucro, lógica que hoje se vê revertida, visto a evidente dominância da tecnologia em quase todos os ramos da vida.
Em 1998, trabalhava na área de HelpDesk em uma empresa emergente, quando vi com os meus próprios olhos essa mudança no valor do profissional da TI. No inicio, o serviço era embrionário, com os poucos funcionários da área correndo atrás dos problemas técnicos a serem resolvidos, a qualquer hora em qualquer lugar, já que era necessário ficar disponível para o outro conseguir trabalhar. Porém, com o passar do tempo e da valorização do funcionário, a relação é outra, com menos perdas no deslocamento e respeito.
Lembro como se fosse ontem de um episódio no qual estava em dispensa do trabalho, mas, ainda assim, meu chefe fez questão de mim para o serviço. Não pense que essa valorização veio de bandeja. Foi um árduo caminho para desvendar o funcionamento de máquinas importadas, decifrando o manual em inglês sem falar a língua, mas se virando. Por isso, que no dia em que meu gestor disse que só confiava em mim para colocar a mão nas máquinas novas, foi um verdadeiro ato de reconhecimento da minha evolução e esforço diários.
No entanto, em outros casos houveram alguns desentendimentos no início. Ainda com pouco tempo na companhia, me interessei por uma nova vaga que havia sido desocupada a pouco, a qual precisava de algum substituto. Meu gestor, depois de esgotar todas as primeiras possibilidades da lista, as quais eram ocupadas apenas por homens, me ofereceu o cargo. Apesar de isso ter se tornado um episódio de sucesso, visto que fui muito bem avaliada na nova posição, é inegável que como mulher, quando você chega em um cenário inusitado, já sente todos os olhos da sala cairem sobre você.
Como que uma pessoa de salto agulha e meia calça pode vir a ser uma boa profissional?
Essa constante necessidade de se provar como membro valioso de um time, sem perder as suas qualidades femininas é uma batalha ainda presente em ambientes profissionais atualmente. Hoje, como gerente de serviços na Softtek, só tenho a agradecer por estar em um lugar tão igualitário, no qual a presidenta serve de exemplo a mim e a muitas jovens por ai.
Não importa o quanto digam que você não pode. Não importa o quanto você tenha que provar sua capacidade. Nunca desista! Você pode e é capaz de tudo!
Texto por Juliana Ribeiro: www.linkedin.com/in/juliana-geraldi-ribeiro